Madri, Espanha. Aquelas Semanas Nacionais dos Institutos de Vida Consagrada que nos anos anteriores precederam a celebrada neste ano foram marcadas por vários eventos eclesiais, como o Ano da Vida Consagrada, o Ano da Misericórdia ou o Sínodo dos Jovens. Pudemos recordar com especial carinho a presença do Cardeal Luis Antonio Tagle em 2015 ou a visita do Cardeal Philippe Barbarin, ambos homens de personalidade extraordinária, com visão eclesial universal e elevada formação teológica.
Este ano, o tradicional encontro dos religiosos na Espanha, organizado pelo Instituto Teológico da Vida Religiosa (ITVR), contou com um duplo impulso, ad intra e ad extra. O primeiro obrigava a fazer memória agradecida destes primeiros cinquenta anos de vida do instituto, umas bodas de ouro que convidavam a recordar que as portas do ITVR sempre estiveram abertas à procura, ao diálogo e ao apoio mútuo no seguimento de Jesus e no anúncio do seu Evangelho do Reino. O segundo girou em torno da urgência missionária de uma vida consagrada que se move, testemunha e trabalha no seio da sociedade, contribuindo de forma decisiva para a construção do bem comum. Também diante do coronavírus. A interdependência e a solidariedade tornaram-se mais presentes e imprescindíveis do que nunca.
A crise do covid-19 nos ensinou que ser comunidade significa estar permanentemente unidos em comunhão eclesial pela vida do mundo. Seis dias de reflexões substanciais e formação sólida, transmitidos pela primeira vez cem por cento online, e que contaram com a palavra e a proximidade, entre outros, do Papa Francisco, dos Cardeais João Braz de Aviz, Cristóbal López Romero ou Aquilino Bocos Merino, e também de outros missionários claretianos de credenciada solvência acadêmica e ampla experiência docente, como Gonzalo Fernández Sanz, José María Vegas ou Manuel Jesús Arroba Conde.
Um programa, portanto, estruturado em torno de uma proposta atual e difícil de superar: ‘Consagrados para a vida do mundo’. Nas palavras do diretor do ITVR, Dr. Antonio Bellella Cardiel, organizador destes dias, “com estes dias queremos oferecer uma pequena provocação: consagrados pelo, no e para o mundo e a vida do mundo”, pois “nossa forma de vida, nossas ordens e congregações não estão fora da sociedade”.
Sentire cum Ecclesia
Com efeito, os consagrados se movem e trabalham no meio da sociedade e, para refletir sobre este chamado a ser fermento evangélico para o mundo, foram reservados o primeiro e o último dia de conferências. Assim, na segunda-feira, dia 17, Dom Luis Ángel de las Heras, Bispo de León e religioso claretiano, contribuiu com a palestra intitulada “A vida consagrada na caminhada do povo de Deus”. Por sua vez, a proferida no último dia pelo Pe. Gonzalo Fernández Sanz, CMF, Prefeito Geral de Espiritualidade, girou em torno da necessidade de uma maior profundidade espiritual para continuar a ser uma palavra de serviço, autenticidade e testemunho. Marta García, professora da Universidade de Comillas, enfatizou a dimensão profética. “Por isso a vida consagrada não pode viver com medo. Se o fizesse, estaria permitindo que a verdade ficasse aprisionada na mentira”.
Outros ecos particularmente positivos ocorreram após as intervenções oferecidas de Roma pelo Superior Geral da Companhia de Jesus e pela União dos Superiores Gerais, Pe. Arturo Sosa, e pelo Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, Cardeal João Braz de Aviz e a presidente da União Internacional de Superioras Gerais, M. Jolanta Kafka, religiosa claretiana. E, acima de tudo, as palavras de encorajamento do Romano Pontífice, Papa Francisco, que também agradeceu o trabalho do Card. Aquilino Bocos em favor dos consagrados de todo o mundo.
A vida consagrada no tecido social
Entretanto, durante os dias de terça, quarta, quinta e sexta-feira, a vida consagrada foi confrontada com o tecido social das realidades onde os religiosos querem continuar presentes. Da América do Norte e da América do Sul estiveram conectadas as irmãs Liliana Franco e Teresa Maya, que ofereceram um painel junto com Xiskya Valladares sobre a vida religiosa como casa de cuidados e trabalho em rede. Nesse mesmo dia, na missão que esta província claretiana tem na Rússia, o Pe. Vegas proferiu a sua palestra, em sintonia com os valores em que se assentam as nossas sociedades pós-modernas. Para repensar os trabalhos assistenciais da Igreja em suas tarefas de cuidar, curar e ensinar, contou-se com vozes como a do Jesuíta Alberto Ares, do Serviço Jesuíta aos Migrantes, a de Pedro José Huerta Nuño, Secretário Geral das Escolas Católicas ou da Ir. Carmen Mora, Superiora Geral das Irmãs da Caridade de Sant’Ana. De periferias também nos falou o Cardeal Cristóbal López Romero, desde o Marrocos. A sua intervenção foi baseada no testemunho e na experiência como religioso salesiano. “A evangelização é, antes de mais nada, uma questão de testemunho”. “Por meio de um testemunho sem palavras, perguntas irresistíveis também são levantadas. Evangelizar não é uma questão de falatório, microfone e alto-falante. É uma questão vital”, insistiu.
Houve também um momento dedicado à relação entre a vida consagrada e a família, e para isso se contou com um conferencista de primeira linha, Pe. Manuel Jesús Arroba Conde, CMF, Reitor do Instituto Teológico João Paulo II de Madri. E como é costume nas últimas edições da Semana de Vida Religiosa, foi aberto um espaço para outras formas de consagração. Especificamente, a quarta-feira foi um dia dedicado à ‘secularidade consagrada’ com intervenções como a da presidente do CEDIS, María José Castejón Giner, e o subsequente colóquio entre Lucio Arnaiz, Responsável pelos sacerdotes do Prado, Margarita Saldaña, das Pequenas Irmãs do Sagrado Coração de Carlos de Foucauld e a Irmã Teresa Rodríguez, da Fraternidade Missionária Verbum Dei.
Para encerrar estes dias de reflexão e encontro, que contaram com a presença de mais de duas mil pessoas consagradas dos cinco continentes, fizeram uso da palavra os Cardeais Bocos e Osoro. Este último, que também é arcebispo de Madri, fê-lo com um discurso atento e zelo pastoral de acordo com o exercício do seu ministério, pois há seis anos iniciou nesta diocese um especial afeto pela vida consagrada em geral e pelo Instituto em particular. Por fim, o Cardeal Bocos Merino conseguiu resumir que “estes dias mostraram que a vida consagrada é uma realidade viva que caminha junto com o Povo de Deus”. Em seguida, completou: «A vida consagrada é um puro milagre e tem futuro porque é obra do Espírito. Ninguém pode legitimá-lo com o esforço humano”. Por último, houve a intervenção do missionário Antonio Bellella, que em nome do ITVR concluiu: “Quem conhece a vida consagrada por dentro não pode negar alguns indícios que sugerem que está nascendo algo novo e que esta Semana encontrou um espaço para se fazer presente”.
Com ampla equipe de pessoas
Esta edição da Semana, a primeira online, não foi exceção. Dando origem a algo que os participantes elogiam e agradecem há décadas, o visível foi possível graças ao invisível. Uma longa dezena de professores do Instituto e de sua escola irmã (Regina Apostolorum) fizeram uso da palavra como moderadores e apresentadores. Uma grande equipe de pessoas, leigos e religiosos, trabalhou no bom funcionamento técnico das transmissões e na sua apresentação aos meios de comunicação. Centenas de pessoas enriqueceram as discussões e reflexões com seus comentários online e não poucas respaldaram com sua oração, elemento também muito cuidado em cada uma das sessões. O grupo musical Ain Karen, ligado à família Vedruna e demonstrando a colaboração intercongregacional, também deu seu grão de areia à boa marcha da semana, seguida pela primeira vez, graças à tecnologia, dos cinco continentes.
Como tantas vezes acontece no mundo universitário, o encerramento da 50ª Semana Nacional dos Institutos de Vida Consagrada marcou o início de sua quinquagésima primeira edição. Vamos em frente, adiante, desfrutando o caminho!
Tirado de © Missionários Claretianos Província de Santiago