FOGO DIVINO
Na pregação pública de Jesus e na ‘educação especial’ aos seguidores mais próximos o amor ao próximo é o tema recorrente. Relembra uma e outra vez o mandamento principal da antiga lei: “amar a Deus com todo o coração, com toda a alma… e ao próximo como a si mesmo” (Mc 12, 30-31), e esclarece que o distintivo de seus discípulos consistirá em amar até chegar a dar a vida pelo outro (cf. Jo 15, 12-13).
Quando o Padre Claret pede com grande desejo este amor, está demonstrando que já o possui, mas deseja que cresça mais. Uma imagem especialmente do gosto de Claret foi a da frágua. Já não existem mais hoje em dia ferreiros artesanais como no seu tempo, mas não é por isso que a imagem nos torna ininteligível. O ferro, matéria fria e dura, colocada no fogo, se faz amoldável e por isso abrasador como o mesmo fogo; não se pode tocá-lo. Quando alcança este estado quase líquido é maleável, se pode dar a ele a forma que se deseja; e isto o faz o ferreiro na base de marteladas sabiamente dirigidas.
Na Bíblia é bem conhecida a imagem do oleiro (cf. Jr 18, 1-7), que dá ao barro a forma que deseja. “Eu quero ser, Senhor amado, como o barro nas mãos do oleiro…” diz um cântico religioso muito conhecido na Espanha, expressar um nobre desejo: que Deus nos dê a forma que ele quiser.
Segundo Claret, somos parecidos ao ferro e precisamos que o fogo do amor nos derreta para que Jesus nos modele. E a forma a que estamos chamados a adquirir é simplesmente a sua: nossa vocação não é outra que a configuração total com o Filho para sermos filhos nele, partilhando seu projeto, seus ensinamentos e, quando Deus quiser, seu ser glorioso.