DA CONVIVÊNCIA À FRATERNIDADE
Existe diferença entre viver juntos e viver em comunidade. É a diferença que existe entre a proximidade de coisas materialmente justapostas e a de pessoas que se sentem convocadas e sustentadas por um vínculo, um projeto comum. As pessoas humanas, todas, têm necessidade de vínculos. Nós nos sentimos realizados na pertença a uma comunidade. É nossa vocação de humanidade, seja qual for o caminho ou estado de vida. E aí se joga a nossa felicidade.
Quando Claret fala de espírito faz referência ao vínculo que surge da nossa condição de cristãos. É um vínculo de fraternidade, porque todos nos sentimos filhos amados de Deus, graças à obra de Jesus. Quer dizer que são muitas as coisas que podemos partilhar, muitas as experiências a que estamos chamados a viver juntos e que redundam em nosso crescimento e nossa felicidade.
Ninguém ignora que o crescer e o ser feliz provêm do viver cotidiano. São as coisas pequenas de que fala Claret, as que mais contam nisto. Muito mais que o ser donos de uma grande inteligência, de uma profissão prestigiosa, de uma boa posição econômica. O que mais nos plenifica e nos faz crescer em Cristo são os pequenos gestos cotidianos de atenção a quem está ao nosso lado: o cultivo do diálogo, o partilhar os serviços, o sair ao encontro de suas necessidades e dores, o conceder espaço no coração, no mútuo carinho. Traduzindo o sentido conventual da palavra “inobservância”, entendemos que ela censura o descuido destes elementos que consolidam no cotidiano os vínculos de uma convivência de sabor evangélico. Porque somos seus filhos, Deus ama a quem é fiel em construir diariamente esta fraternidade.
Talvez tenhamos que tomar consciência dos vínculos que tecem nossos contatos e perguntar-nos se personalizamos este relacionamento com nosso próximo, se contamos com o respeito pelo outro, o apreço por seus valores, por sua dignidade de imagem de Deus. Aflora em nosso viver cotidiano, em nossas pequenas coisas, a fraternidade evangélica?