TER OS SENTIMENTOS DE JESUS
Existe uma constante nos Evangelhos, sobretudo, em Marcos, que consiste em que, cada vez que Jesus faz um milagre ou entusiasma a multidão e esta o elogia, ele impõe silêncio e a despede. Em algum estudo sobre a psicologia de Jesus foi dito que este traço é sinal da sua saúde mental.
Claret teve muitos motivos para entregar-se à própria satisfação. Até nos momentos mais duros do seu ministério houve multidões que o aclamaram como herói. Em Canárias o povo o apertava tanto que as autoridades tiveram que protegê-lo com um quadrado de madeira; “Somente levei daí cinco rasgões que o povo fez em meu capote velho, pois se lançava por cima de mim quando ia de um povoado a outro” (Aut 486). Em sua passagem por Madri, antes da viagem para Cuba, foi obrigado a frequentar o meio aristocrático: “fico louco ao ter que receber e fazer visitas a pessoas de maior categoria” (EC I, p. 424); impuseram-lhe cruzes, medalhas e condecorações. E quando chegou e saiu daquela Ilha o fez no meio da multidão e saudado pelas máximas autoridades.
Chegando a Madri foi nomeado confessor real e lhe impuseram novas medalhas. Logo depois recomeçou com suas pregações com êxitos multitudinários: grupos de 4.000 e de até 6.000 pessoas no templo (EC I, p. 1441). Conseguiu melhorar a lei da educação e que se promulgassem decretos a favor da moralidade pública. Ganhou a alma de muitos Ministros; a Rainha o admirava até chegar ao supersticioso.
No meio de tudo isto, Claret manteve sempre o grande critério de imitar o mais literalmente possível a Jesus, também em sua humildade e em sua preferência pelos humildes. Ao ser nomeado confessor real, dizia confidencialmente a um amigo: “Deixem a mim a confissão dos pobres e boçais” (EC I, p. 1335). Uma testemunha da sua época na corte declarava: confessa todos os dias nas igrejas o povo mais pobre… Não negou o dom de Deus, mas “nas alturas” esteve sempre incômodo e se considerava “um burro carregado de joias” (AEC p. 688).